Retomada da literatura ou projeto “leitor dedicado”


No ano de 2018, em meio a ansiedade do primeiro ano de mestrado e as dificuldades financeiras (não tinha conseguido bolsa), resolvi que deveria começar a ler um pouco mais de literatura. A graduação em Ciências Sociais me exigiu a leitura de muitos textos e livros ao longo de quase cinco anos. Além disso, as obras dos clássicos em Sociologia e a Antropologia muitas vezes apresentam características literárias, como já apontado pelo sociólogo americano Robert A. Nisbet[1]. Apesar disso, os textos científicos e teóricos evidentemente tem outros propósitos. Nesse sentido, o caráter poético e lírico na narração de histórias sobre as sociedades e a vida humana que eu tanto procurava me impeliu a retomar meu projeto de me tornar um leitor mais dedicado ou, pelo menos, mais ousado.
 
Desde então, tenho buscado muito mais escolher alguns livros do que fazer uma seleção. Quase dez anos depois do meu primeiro ímpeto para me tornar um leitor, me vejo diante de diversos Youtubers com canais de alta qualidade, fazendo resenhas e mostrando clássicos nacionais e universais da literatura. Além disso, com um aparelho como o Kindle, milhares de livros podem ser armazenados e levados para todo lugar.  Em junho de 2018, com um Kindle recém comprado e já com 24 anos, escolhi ler O apanhador no Campo de Centeio de J. D. Sallinger. Um livro controverso, que divide opiniões de quem ama ou odeia o Holden Caufield, o personagem principal do livro. Eu simplesmente adorei, fiquei fascinado e apaixonado pela simplicidade da leitura, tendo em vista que o livro é considerado um clássico. Além disso, foi incrível pensar na sensibilidade do autor em construir um personagem adolescente tão complexo, cheio de emoções, questionamentos e dúvidas em pleno anos 40, quando muitas vezes parece ser um adolescente vivendo nos nossos dias.

O apanhador no Campo de Centeio foi uma ótima primeira escolha para retomar meu projeto como leitor. A partir daí quase todos os meses procuro pelo menos um livro para me dedicar. É incrível como a literatura se assemelha com outras manifestações artísticas ao mesmo tempo em que nos oferece possibilidades ímpares. Eu devo imaginar o personagem Holden Caufield de uma forma durante a leitura, compreendo seus sentimentos de outra perspectiva que não necessariamente se parece com a de outro leitor. Dessa forma caminho com o meu projeto“leitor dedicado”, muito mais que seleções, tenho escolhido – e acertado – livros que ampliam minha visão sobre a vida e o caráter intrinsecamente multifacetado do ser humano.




[1] NISBET, Robert. A sociologia como uma forma de arte. Plural; Sociologia, USP, S. Paulo, 7: 111-130, 1º sem. 2000.

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